VALORES PESSOAIS E PRÁTICAS HUMANIZADAS DE ASSISTÊNCIA AO PARTO EM ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Resumo
Compreensões diversas sobre as práticas associadas ao parto são resgatadas na contemporaneidade e não se apresentam de modo consensual entre os diversos atores envolvidos e referentes teóricos. As referências sociais, culturais, políticas e econômicas aparecem nesse contexto imiscuídas e dialogam intrinsecamente com os elementos de ordem intrapsíquica, como valores pessoais dos profissionais de saúde, quando se trata de adotar e reconhecer as melhores práticas de assistência envolvidas no parto. Historicamente, a representação do parto como um evento patológico ganhou projeção no momento em que a sociedade centrou suas práticas de cuidado em instituições de saúde formais regidas pelo saber médico e, com isso, foi iniciado intenso investimento na aplicação de técnicas e tecnologias no parto que substituíram expressivamente as relações humanas que aconteciam no cenário do parto e nascimento. O forte investimento na técnica fez com que o cenário obstétrico se tornasse um espaço onde mulheres, com frequência, passam a ser “pacientes” e não agentes das decisões que perpassam suas gestações. Aumenta nesse contexto vivências de parto física e emocionalmente insatisfatórias, mulheres se tornam um objeto das práticas médicas e o parto se torna um procedimento médico violento e invasivo, perdendo seu status de fenômeno natural e fisiológico. Contra esse modelo, surge a necessidade de humanização do parto e nascimento, que foi considerada uma estratégia diplomática de legitimidade para o resgate da mulher durante o parto. Nesse cenário obstétrico humanizado é de fundamental importância a participação dos profissionais de saúde inseridos nesse contexto, pois dentre os inúmeros fatores que podem influenciar a adesão ou recusa de práticas humanizadas no cenário obstétrico estão os valores pessoais, uma vez que valores orientam e motivam ações e comportamentos. O objetivo da pesquisa foi correlacionar a influência dos valores pessoais na adoção de práticas humanizadas no cenário obstétrico. Participaram da pesquisa 94 estudantes e profissionais da área da saúde, sendo 85,1% mulheres e 14,9% homens. 35,1% tinham concluído a graduação e 64,9% em andamento. Os dados foram coletados através da aplicação on-line do Questionário de Valores Básicos (QVB), Formulário de Práticas Humanizadas e um Questionário Sociodemográfico. A análise ocorreu a partir do SPSS (Statistical Package for the Social Science) e foram realizadas as análises exploratórias e correlações bivariadas. Dentre os resultados destacam-se correlações significativas entre (i) práticas que permitem acompanhantes nas salas de parto e valores associados à sobrevivência e preservação e não como uma prática que gere prazer; (ii) também associada à sobrevivência está a permissão da permanência do bebê junto a sua mãe após o parto; já a (iii) prática do diálogo constante com as gestantes é associada à prestígio que estas possuem no processo e promove estabilidade pessoal. Ademais (iv) as práticas de promoção e criação de vínculo mãe-bebê correlacionaram-se de forma positiva com a saúde, estabilidade pessoal e respeito à valores de tradição que as mães possuem. Por fim, (v) práticas obstétricas com base evidências científicas correlacionaram-se positivamente com o valor sobrevivência, o que pode levar a explicar o porquê ainda são tão cultuadas dentre gestantes as práticas médicas
Palavras-chave
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PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n2.2016.5572
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