Desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático no puerpério tardio a partir de fatores relacionados ao parto em um hospital público do Distrito Federal
Resumo
INTRODUÇÃO: O ciclo gestacional, em especial o parto, constitui um evento complexo, que a depender da resposta adaptativa de cada paciente, pode representar tanto uma experiência positiva quanto uma negativa, podendo, nesse último caso, levar puérperas a experienciar estresse e depressão por períodos prolongadas após o parto, além de ser um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de TEPT. METODOLOGIA: Estudo individuado, observacional, quantitativo, transversal; realizado em um hospital público do Distrito Federal em duas etapas, sendo a primeira por meio de uma entrevista estruturada e análise de prontuários através do Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, coletados na maternidade, e a segunda, pela Escala de impacto de um evento (IES) obtida via telefone 42 dias após o parto. As variáveis foram analisadas quanto ao tamanho amostral, valor mínimo, máximo, média, desvio-padrão e coeficiente de variação. Para análise do impacto das variáveis foram utilizados os testes de: Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e Bartlett. RESULTADOS: A média de idade foi de 28 anos, sendo a maioria, menor de 35 anos (79,57%; n =113), a maioria possuía ensino médio (58,16%; n = 82), declarou trabalhar fora (44,29%; n = 62), tem história de trauma anterior 21,13% (n = 30), histórico psiquiátrico 16,90% (n = 24). Foi identificada a prevalência de transtorno de estresse pós-traumático de 6,33%, (n =17). Quanto ao parto, 74,45% (n = 102) relataram preferência por parto vaginal, sendo que 53,52% (n = 76) teve o parto desejado. 47,89% (n = 68) das pacientes teve parto vagina, 36,62% (n = 52) tiveram cesárea de emergência e 15,49% (n = 22), cesárea eletiva. Quanto ao uso de medicações durante o trabalho de parto, em 40,85% (n = 58) houve indução do parto e em 51,41% (n = 73) foi utilizada analgesia de parto, em sua maioria raquianestesia (98,55%; n = 68). Das pacientes, 48,59% (n = 69) tiveram alguma intercorrência durante a gestação, e 42,25% (n = 60) durante o parto. 48,23% (n = 68) foram acompanhadas pelo parceiro, 36,17% (n = 51) por algum membro da família, 14,89% (n = 21) estavam sozinhas e uma pacientes (0,71%) estava com uma amiga. A respeito da experiência com o parto, 28,17% (n = 40) alegaram muito ruim, 28,87% (n = 41) ruim, 23,94% (n = 34) moderada, 15,49% (n = 22) boa e 3,52% (n = 5) afirmaram que a experiência foi muito boa. Das 142 pacientes, apenas 1 não realizou o pré-natal, sendo que a maioria (75,35%; n=107) realizou o pré-natal completo (6 consultas). DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: Foi observada uma diferença significativa na escala IES em relação a avaliação do parto realizada pelas pacientes (Kruskal-Wallis; H = 31,50; GL = 2; P < 0,001), percebeu-se que pacientes que consideraram o parto ruim (7,970 ± 12,04), tiveram um valor na escala IES maior do que quem considerou o parto bom (1,84 ± 3,97; média ± DP) ou moderado (2,00 ± 5,25 média ± DP; post-hoc para ambos P < 0,05; Fig. 1). Dentre os fatores que influenciaram negativamente a avaliação das gestantes, estão: indução do parto (p =0,023), parto vaginal (p = 0,021) e cesárea de emergência (p = 0,021). Como fator protetor foi identificado ter o parto desejado (p < 0,001). Não houve associações estatísticas significativas entre a pontuação do IES e o histórico psiquiátrico das pacientes, trauma anterior. Conclui-se pacientes que apresentaram avaliações negativas quanto ao parto no puerpério imediato e mediato são um grupo de maior risco para o desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático, assim como pacientes que tiveram parto induzido, passaram pelo trabalho de parto, tiveram parto vaginal, cesárea de emergência ou não tiveram o plano de parto respeitado. As demais variáveis estudadas não apresentaram associação estatística relevante
Palavras-chave
Transtornos Puerperais, Período Pós-Parto, Transtornos de Estresse Traumático Agudo, Transtornos de Estresse Traumático.
Texto completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n1.2018.6370
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