A exclusão social como base do discurso neonazista contemporâneo: Uma análise psicanalítica dos novos discursos da supremacia branca

Frederico Martins Vergara, Juliano Moreira Lagoas

Resumo


como expresso por integrantes da alt-right — a direita alternativa norte-americana —
concebidas a partir de algumas ideias centrais da Psicanálise em Lacan e Freud, com ênfase nos desenvolvimentos de Slavoj Zizek. Partindo do paradigma da psicanálise extramuros,propôs-se o método da análise psicanalítica do discurso como ferramenta de análisepsicológico-social. O objetivo da pesquisa foi identificar as relações entre a figura histórica do Judeu e esse novo sujeito neonazista por meio da análise do seu discurso. Nossa hipótese é a de que a exclusão do Judeu constitui um ponto nuclear do discurso neonazista e, como tal, imprescindível à sustentação das fantasias ideológicas que lhe são imanentes. Falamos isso a partir de uma perspectiva estrutural, ou seja, que o Judeu tem uma função determinada que é comum entre os mais distintos sujeitos, ainda que não carregue as mesmas conotações ou descrevam um mesmo objeto — a de ser excluído para que se dê consistência ao discurso. O material analisado é de acesso público e decorrente de publicações do portal The Daily Stormer, consistindo em uma coleção de textos e vídeos postados por lideranças da alt-right, além de um curta-metragem documentário que acompanha uma dessas lideranças em manifestações

nos Estados Unidos. O resultado são documentos e transcrições em que buscou-se explicitar as referências ao Judeu no discurso neonazista, identificar os tipos de relação que este significante têm com outros e, sobretudo, a posição em que se insere o sujeito neonazista diante dele. Nossa hipótese pode ser parcialmente verificada nos discursos analisados. A centralidade do antagonismo ao Judeu está presente no novo neonazismo, mas ela se expressa muitas vezes de modo distinto do que pudemos observar em análises sobre o nazismo original. Dentre outros aspectos, concluímos que, ao contrário do que coube a Hitler no passado, há a prevalência do que denominamos um líder negativo, cujos indicadores no discurso são os mesmos que aqueles que tentam fazer referência ao Judeu, quer dizer, o discurso se organiza muita mais em volta dessa sorte de líder negativo, o Judeu, que em volta de uma figura de liderança positiva. Com efeito, o Judeu não apenas é o que/quem deve ser excluído mas a que/quem, antes, atribui-se
tudo aquilo que deve ser excluído para que a sociedade deixe sua suposta trajetória de
degeneração e transcenda tudo que há de mal. Assim, para o neonazista da alt-right, o que deve ser removido está sempre na conta do Judeu, mas este é mais abstrato do que nunca, sua presença percebida por sua negatividade, sua ação executada por intermediários, sejam eles instituições, outras etnias, nacionalidades, religiões, ou figuras específicas. Secundariamente, propomos uma discussão sobre como a exclusão que permeia esse discurso se relaciona com aspectos que são constitutivos do sujeito — e assim da sociedade —, ou seja, como não é possível falar de uma fantasia ideológica que não tenha profunda relação com aspectos fundamentais da subjetivação e o papel do desejo e das relações identificação na delimitação da experiência e ação política.


Texto completo:

PDF


DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2019.7462

Apontamentos

  • Não há apontamentos.

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia